Uma resposta à pergunta: o que aconteceu com a Música Brasileira?

O vídeo acima vem rodando as redes sociais nessa semana, e pretende ‘investigar’ os indícios de que a música brasileira teria sido propositalmente sabotada nas últimas décadas.
Brincadeiras à parte, uma pergunta ritaleeana fica no ar ao final do vídeo: meu Deus, o que foi que aconteceu com a música popular brasileira?
Aliás, pode-se estender a questão à escala mundial, qual o resultado da última década em que a Apple ligou os pontos e tornou o iTunes a ferramenta default para distribuição e comercialização de música?
Arrisco, nas próximas linhas, minha explicação.
Antigamente, antes de ser possível inserir um cd em um computador e a música estava completamente presa a um suporte físico secundário (suporte que, por si só, não poderia reproduzí-la), uma narrativa linear poderia ser facilmente acompanhada por fãs de um determinado estilo musical.

Ser fã de uma banda ou estilo, (e, para alguns, “entender de música”) significava acompanhar o desenvolvimento ou a evolução do trabalho registrado em disco. Segurar um lançamento fonográfico nas mãos era tenso, perturbador. Ler as primeiras resenhas, um desafio. Acompanhar todas as fofocas sobre seu rockstar favorito, obrigatório, para racionalizar os motivos daquele som ser assim, aquela letra ser sobre aquilo, aquele arranjo tão esquisito ou regular.
Todos esses fragmentos formavam uma linha evolutiva única, simples, e direta.
O resultado da influência de um artista ou disco sobre outro era também dissecado para ser celebrado (ou lamentado). E grandes obras se sucediam de fiascos completos, criando um relevo a carreiras inteiras, que poderiam inclusive decair ao ostracismo com a mesma velocidade que ascenderam. O que era particularmente cruel no caso dos one-hit wonders.
Entre evoluções e revoluções, a existência da música pop por si só era sinônimo de movimento. Os anos 50 inspiraram a década de 60, que foi subvertida pelos 70, que impulsionou os 80, e atingiu o ápice comercial e de prestígio nos anos 90.
Então a internet acabou com tudo isso.
Desde então não existe mais vanguarda na música pop.
Não existe mais sequências estéticas lógicas ou explicações racionais.
Com a explosão de informações disponíveis, o rockstar do metal virou meme no shopping center.

Para quem cresceu acostumado com a narrativa anterior, há uma sensação terrível de uma falta de movimento, de uma apatia, de um congelamento.
Não que não existam novas estéticas ou mensagens sendo produzidas no universo musical. Mas quando tudo está disponível ao mesmo tempo, resulta na experiência de acesso em que a primeira gravação obscura do Elvis e a nova música do XX tornam-se equidistantes.
A vida ficou sem referência ou perspectiva histórica.
Por fim, a ascensão da internet ainda guardou uma última e cruel consequência: acabou com o tacape do jabá. Então, agora é inútil culpar os fãs de uma banda ou estilo pela pouca visibilidade ou relevância de outro. Se a massa não gosta, é porque a música não tem apelo, ou não combina com ela, não comunica, não emociona, e pronto.
Não adianta reagir. Agora, tem espaço pra todos. Mas a ação e a dedicação necessária para que algo se sobressaia nesse universo democrático requer a compreensão de que a mudança estava apenas no começo quando digitalizou a sua coleção de LPs.

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