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Conservador, progressista… ou alienado?

Meu nome é Rafael Losso e nasci em Curitiba em um domingo de 1978.

Eram tempos de falas proibidas, de Regime autoritário, de digressões raras e perigosas.

Éramos filhos da ditadura, e as instituições tratavam de nos ensinar a contemplação silenciosa como forma de conservar as premissas máximas costuradas em nossa bandeira, Ordem e Progresso. Assim, escola, igreja, jornais, revistas e televisores foram formando, conformando, deformando a geração que crescia sob a égide do AI-5. Paralelamente, tratavam de silenciar visões alternativas de mundo com a criminalização do subterrâneo marginal.

Enganadas e iludidas, essas crianças ainda foram confinadas em uma missão puramente alegórica: os jovens da nova Era. Incentivados a contar nos dedos a o tempo que faltava para o novo milênio, passamos a nutrir um sentimento vago de programada esperança, aliada a uma carência profunda de qualquer substrato ou ideologia.

O ano 2000 carregava simbolismos e promessas. Seria o início de um século moderno, industrial, urbano, em uma sociedade global que seria em breve interligada, primeiro pelos interesses econômicos neoliberais, depois pela internet. Para o Brasil, o país do futuro, eleições diretas rotineiras, instituições fortes, moeda estável, projeção internacional.

Mas o futuro era confuso em 1978. Com a cadeia da informação sob severa vigilância não se poderia imaginar, arriscar, uma previsão para os próximos anos. Abertura? Radicalização? Não se arriscaria uma mínima observação.

As informações disseminadas eram uniformes, impostas e recebidas com naturalidade dissimulada, cheia de dúvidas, mas cercadas e protegidas pelo silêncio.

Quando a Era do silêncio acabou éramos uma Nação destreinada. Quais seriam as vozes a imaginar novas possibilidades em um país alijado de dissidentes? Do exterior voltaram os antigos líderes, intelectuais e artistas, a apontar o caminho.

Mas as falhas propositais na formação da nossa geração nunca foram corrigidas. Fomos sonegados, quando deveríamos ter aprendido os subsídios mais importantes da cidadania: como pensar, discutir, debater, contradizer, responder. O assunto das discussões ficou restrito ao trivial, as únicas discussões sobre o esporte, o único esporte, o futebol.

Como política de Estado, não nos foi ensinado a construir ídolos, apenas a adotar aqueles impostos, impostores, com pés de barro e mãos atadas. Como resultado, dissociamos nossa ideologia da realidade, adotamos estéticas e estilos alienígenas, e alucinamos nossa integridade psíquica, emocional, nossa identidade cultural.

“Nos deram espelhos, e vimos um mundo doente. Tentei chorar e não consegui”

Hoje, com 35 anos, me vejo criando um novo blog. E me passa pela cabeça uma pergunta, tão paralisante quanto terrível: para quê? Para que dedicar um esforço em dedilhar o teclado com idéias, opiniões, pensamentos? Qual autoridade tem você sobre os fatos e atos que acontecem ao redor que justifique uma interpretação sua? Para quem escrever, se há tanto já escrito, há tão pouco escrito, tanto se lê, e tão pouco? Você quer subverter, bagunçar, agredir? O que almeja construir em uma simples página perdida no espaço imenso dessa internet?

E então descubro porque eu quero ter um blog, um endereço meu: porque sei que a voz que me faz as perguntas acima não é a minha, mas a voz covarde e sinistra internalizada durante a minha infância, que sussurrava pelas ruas, esquinas e calçadas de que não há o que se pensar, não se pode construir, não se pode dizer, escrever.

Esse blog existe porque preciso, como cidadão de 2013, contradizer essa voz com conteúdo, opiniões, imagens e sonhos, histórias e lembranças. E ocupar o espaço oco em que as ideologias digitais e as estéticas analógicas se chocam, em violenta criação de novas perspectivas que, agora sim, podemos comentar, teorizar, participar, aprendendo a tomar rédeas da História que vivemos.

Em busca da voz que é a verdadeira, integral, real, a esmagar o silêncio impostor a nada.

Sinta-se convidado a compartilhar essa jornada, em comentários, discussões, pensamentos autênticos e referências bacanas. Links novos para projetos antigos. Idéias futuras e conceitos presentes, simultâneos, paralelos.

Vamos nessa!

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